by Ginnungagap

Afirmar é não negar, mas não negar não é afirmar!! O contrário também é verdadeiro.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Gentileza gera... abuso

Jacques Lacan, psicanalista francês formulou a Teoria do Espelho. Muito resumidamente, diz a teoria que o que vemos nos outros é realçado por aquilo que vemos ou que gostaríamos de ver em nós mesmos. Assim, se uma característica de alguém que está ao nosso lado nos incomoda, de fato, estamos incomodados pela materialização de uma característica nossa da qual não gostamos.

Maquiavel, em um de seus muitos conselhos a seu Príncipe, sugeriu que atribuísse ao outro, seus próprios defeitos, de modo a impedir que o outro o faça primeiro. Na política, este é um recurso muito comum.

A direita ultrarradical que vem se espraiando pelo mundo através dos bilhões de dólares de Bannon e seus quetais, instaurando ditaduras, cerceando direitos em nome de uma "liberdade" para o capital, utiliza este recurso muitíssimo bem. Aponta as ditaduras da esquerda para justificar as suas, aponta a riqueza da esquerda, rotulando-a como hedonismo, para justificar o seu hedonismo, como se a esquerda quisesse "tudo para si" ao invés de "tudo para todos", aponta para o assistencialismo como alimento para a preguiça que, de fato, é sua ao não querer produzir e viver de especulação e da exploração dos desafortunados, anyway, apoia-se no efeito espelho ao máximo e, com isso, convence seus adeptos.

Para mim, só há três tipos de pessoas apoiando esse (des)governo, independentemente do nível de QI:

1) Os mal intencionados, que são maus caráteres. Oportunistas como os mega pastores, os grandes sonegadores, como o Véio da Havan, os lambebotas da imprensa (por favor, não falo de todos os jornalistas,infelizmente é preciso deixar claro!), os idiotas que tem um Corolla do ano e acham que fazem parte da "elite do país", entre outros.
2) Os ingênuos. A grande maioria que não tem discernimento e segue qualquer coisa, seguem a esse (des)governo como seguiriam a qualquer outro, defendendo-o com unhas e dentes sem noção do que fazem.
3) Os orgulhosos. Os "isentões" e os "anti petismo" que se recusam a "dar o braço a torcer" e reconhecer a merda que fizeram.

(Nota, loooongo parêntese: sei que é possível "espelhar" as mesmíssimas três categorias na oposição, contudo acredito que a distribuição percentual entre elas seja o diferencial e, mais uma vez (what can I do?) citando Reinaldo Azevedo, para ser de esquerda o sujeito precisa de um nível mínimo de compreensão da realidade e de "profundidade de discurso" que essa direita radical que está aí, dispensa por ser rasa e opositora do esclarecimento e da educação. Reinaldo dá um exemplo muito bom. Para ser de esquerda, é preciso compreender que o bandido, grosso modo, é uma pessoa que nasceu sem oportunidade, sem perspectivas, levado ao crime pela sedução do dinheiro e da vida boa. Para ser de direita basta pensar: "Bandido bom é bandido morto.", nada mais. Fim da nota)

E são as pessoas inteligentes que estão no último grupo que mais me "tiram do eixo", algumas no segundo grupo também. O que tem me incomodado na sua posição não é uma tentativa pollyanesca de enxergar algo de bom nesse governo. Antes, a eterna insinuação de que quem se opõe a esses excrementos que ocupam o Planalto, seja um "Lulaminion" e, para mim, pior, sua insistência na "desculpa" de que com Haddad seria pior, argumento único de 99,99% dessas pessoas. Soa para mim como um "não vou dar o braço a torcer e reconhecer a merda que fiz" reforçado por "tenho a desculpa perfeita para dormir à noite".

Considere-se, ainda, que há agora os Cirominions tentando surgir como terceira via, o que implica uma falácia intelectual, não obstante seus discursos didáticos (para poucos), linguisticamente quase irretocáveis, mas que escondem uma ideologia enviesada e, em muitos momentos torpe, porque utiliza recursos emocionais "racionalmente calculados" e alegorias que distorcem a realidade, aproveitando-se habilmente de meias verdades ou de meias interpretações de verdade que, num mundo polarizado e raso se tornam mais do que suficientes para arregimentar incautos, como por exemplo sua "ajuda ao PT", quando na verdade ele "ajudou" a todos os governantes desde a ditadura, comendo das migalhas que caíam das mesas, essa "ajuda" entre aspas indica que foram atitudes fisiológicas de quem não queria estar longe do poder.

Ouvindo o podcast Mamilos (estou "maratonando" para tirar o atraso), no episódio sobre ditadura, descubro que há também um "novo Centro". Eu me considero de Centro Esquerda e explico  minha posição, descolando-me do Centro que hoje existe na política  brasileira. Um amontoado amorfo de aproveitadores e oportunistas que se bandeiam para o lado que "pagar mais".

Pois bem, já há uma "campanha de Whatsapp" defendendo que "o Centro" é a solução para essa política polarizada entre "isso que está aí" (refiro-me ao presidente e camarilha) e o Lula (que, infelizmente, não é "só" maior do que o PT, é maior do que a própria esquerda!).

Esse "novo Centro" é uma direita moderada que busca ainda um líder (Dória (argh)? Huck? Maia? Não se assustem se o Ciro se bandear para lá) e que traz um discurso menos exclusivo, menos descomprometido com o social, capitaneada por nomes como FHC e Armínio Fraga. É Centro Direita, não Centro!

Ainda há as pessoas a quem eu pedi que simplesmente se afastassem de mim, pessoas que querem o fechamento do Congresso e do STF, pessoas que ecoam algumas das falas idiotas do estrupício que nos (des)governa como "não há fome no Brasil, porque não há mendigo magro" e outras imbecilidades. Estes não me perturbam, porque simplesmente não os levo à sério. Embora quando são figuras importantes do governo, deixam-me com, no mínimo, uma pulga atrás da orelha, porque a perspectiva de uma ditaduram, por exemplo, sempre foi real desde quando ficou certo que a coisa ganharia a eleição.

Anyway, não são o ódio e o preconceito emanados por este (des)governo de hoje o que me perturba, antes é o ódio e o preconceito, contra os quais luto com todas as forças, que ele e seus adeptos provocam em mim. A figura do atual presidente (estou me recusando propositalmente a escrever seu nome) é, para mim, a coisa mais abjeta e horrenda, minto, a segunda coisa mais abjeta e horrenda, suplantada pelo ministro da (in)Justiça, a passar pela história do país, em todos os tempos, incluídos aí os ferozes Emílio "AI5" Médici e Ernesto "Mão de ferro" Geisel.

Finalizando, a recusa em falar o nome do sujeito que hoje ocupa a presidência e os adjetivos que uso aqui para descrevê-lo são uma forma de passar uma ideia de como me sinto a respeito desse senhor, um pária que "mamou nas tetas do erário", usou dinheiro público para "comer gente", enriqueceu de forma suspeita (ele e os capang..., digo, filhos), um miliciano, um desqualificado. Simples assim. Isso me violenta, porque não me agrada esse tipo de ataque, não me agrada a ideia de um ser humano que não mereça respeito, mas sobre isso digo duas coisas:

1) Todas as regras tem exceção. E esse cara (e os próximos a ele) são exceções à regra de "respeitar seres humanos".
2) Citando Edmund Burke, pensador irlandês, pai do conservadorismo: "Há um limite além do qual a tolerância deixa de ser uma virtude". Ou, como dizia a Vovó, "filho, se você se abaixar demais, a bunda aparece!", ou, como diz o título do artigo...

Fique bem.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Parabéns, José Trajano

Ao excelente jornalista, cidadão, exemplo para todos nós, com um dia de atraso, um pequena homenagem. Um "sonetóstico" (soneto + acróstico). Acabei de ouvir a um Pontapé (podcast de que ele participa brilhantemente toda segunda-feira à noite), muito emocionante com os muitos testemunhos de pessoas a quem ele influenciou e ajudou.

Parabéns, José Trajano dos Reis Quinhões

A imprensa sem ti seria exangue
Largo vazio, de ideias, deserto
O jornalismo está no teu sangue
José, cidadão, altivo, experto

Oh! O mundo não seria o que é
Se não houvesse você em seu seio
És firmeza, integridade, axé
Tanto a trabalho quanto a passeio

Reverenciá-lo é um grande prazer
A todo instante, a te ouvir, ler e ver
José, parabéns por mais esta data

Ainda espero tua presença grata
Nos áudios, vídeos por anos a vir
Obrigado, Trajano, por existir

Do seu fã,

Escobar.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Como não jogar a toalha?

Hoje, 31/07/2019, li o desabafo de um amigo que me abalou:
"Fernando, eu já me cansei de "dar murro em ponta de faca". Não adianta, essa cruzada não tem resultados positivos. Nem aqui no Codi*, nem no Twitter, nem em qq outro lugar. Nada que seja exposto, nada que seja 100% verídico fará com que as coisas se alterem. Já passamos do "horizonte de eventos". Não há mais salvação. Fiquei boquiaberto ontem com a atitude dos adoradores do Bolsonaro. Não há nada que fará com que mudem de ideia. A radicalização está completa e a lavagem cerebral foi profunda e eficaz. São tão piores quanto os defensores de Maduro e do Chavismo. Eu falei sério ontem qdo disse que era pra jogar a toalha. Sabe aqueles videozinhos que a gente assiste onde os humanos estão enfurnados nos celulares e totalmente alheios à realidade? Pois é... a tese acaba de ser confirmada e a profecia se auto-realizou. É triste, mas é a nossa realidade. Não há o que fazer... as instituições ruíram,  os poderes da republica não funcionam mais e a massa, é só massa. Bolsonaro é o reflexo da nossa "sociedade" doentia, reflexo da nossa ignorância, da nossa ganância, do nosso egoísmo, da nossa incapacidade de lidar com o diferente, da nossa inabilidade de dialogar, da nossa falta de senso, da nossa falta de estudo e educação, do nosso orgulho e arrogância, da nossa falta de respeito, do nosso ódio. The dark side wins! As pessoas não farão como Vader no seu momento derradeiro. Não arremessarão Darth Sidius para as profundezas do inferno. Os reflexos desse nosso momento histórico serão permanentes, não há o que fazer no futuro que apagará essa mancha e compensará de alguma forma os erros de agora. É a mesma coisa que acontece quando há uma traição num relacionamento: a mancha sempre estará lá, os reflexos serão permanentes e não há o que fazer. O brasileiro colocou pra fora a sua pior face e não dá pra esquecer isso. Não há solução para o país. Para aqueles sortudos e abastados, sumir daqui amenizaria a dor. Mas ainda restará na consciência aquela culpa de deixar os entes queridos à revelia do nosso próprio povo. Desculpe pela má notícia." (Marcelo Lima)
Há muito, ainda no primeiro governo Dilma, eu estímulo os jovens a irem embora do país,  meu filho mais velho que o diga, só que parece que atingimos um patamar do qual não conseguiremos retornar. O Sr. Jair (antes, a condução dele ao cargo máximo do executivo e o apoio dado à sua monstruosidade) nos trouxe num curto período a um grau de obscurantismo, de imundície jamais pensado, mesmo por aqueles que anteviam algo assim antes do pleito.
A imagem país,  o futuro do país, estão severamente comprometidos.
Como continuar frente à perseverante ignorância e cegueira?
Como... ?
É isso.
Blessed be.

* - Codi é redução de Codiloco.  Um grupo de pessoas esclarecidas, com pensamentos fortemente  heterogêneo, do qual tenho o prazer de participar desde 2001, levado por meu querido amigo, considero  irmão,  Marcelo (Arcanjo) Silva.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Vamos falar de Lula e de Dilma


Lula

Meus amigos podem ficar chateados comigo, mas, é fato, não acredito na honestidade de Lula e nem o acho um “bom caráter”. Se ele merece estar na cadeia ou não (por este processo do Triplex, não merece, que fique claro:  foi um crime cometido pelo Judge Star seu pet), também é um assunto longo, com muitas variáveis que, por si só, já valeria um artigo inteiro. (Ele foi conivente com muita coisa ruim, mas fez muita coisa boa, se formos usar a lógica tupiniquim de acertos justificam erros, a discussão “vararia” uma madrugada).
Vale lembrar sempre: Lula é um gênio! Gênio, melhor assim, com “G” maiúsculo. De comunicação, de política, um monstro. Não pensem que a fundamentação epistemológica lhe faz falta (como faz a Olalho de Carvavo, por exemplo), porque não faz. Ele leu muito, viveu muito e não tem conhecimento formal, mas tem, sim, muito conhecimento e inteligência para utilizá-lo.
Acredito em duas coisas que Lula fala e parecem ser “de coração”:
1) Ele quer acabar com a fome no país. Creio nisso, imagino que ele tenha realmente passado fome e que extirpar este câncer do país seja um de seus objetivos de vida. Ainda que para isso tenha que “abrir as pernas” para os Bancos, os PMDBs, os DEMs, os Macedos e Valdemiros, os “barões” que comandam o país (de dentro e de fora!).
2) Ele não se interessa por “dinheiro”. Até acho que ele possa ter “entesourado” algum dinheiro sujo, para garantir o futuro da família (filhos e netos), mas ele mesmo não seja comprável com dinheiro (em espécie). Acho que aquilo de que ele gosta e sempre buscou, a vida toda, aquilo que o deixa vulnerável, é o poder. Para mim o que alimenta seu ego é ser recebido como “rei” em qualquer lugar do mundo, é ter tapete vermelho e bajulação de líderes mundiais (convenhamos, quem não gostaria?). Tirando isso, não há necessidade de um Triplex de fundos sem vista para o Guarujá, bastavam-lhe um churrasco com os amigos, com futebol e uma cachacinha, e um passeio no sítio, sim, ele usou, não há dúvidas, se “deram para ele” não foi “de papel passado”.
Acho que Lula é, acima de tudo, um “bom jogador”. Ele institucionalizou a corrupção no país e governou tranquilamente por 8 anos, sem oposição e deixou o governo com 87% de aprovação. Mas, pelo outro lado, ele também “liberou” as prisões... Assim: “quer roubar? Quer fazer coisas sujas? Faça, mas se te pegarem, o problema é seu!! Eu não sei de nada”. Nunca a polícia, a PGR, e os órgãos de controle e fiscalização tiveram tanta autonomia quanto na “era Lula”, ressalte-se que os líderes de seu partido foram, em grande maioria para a cadeia (cadeia!!).
(Aliás, parêntese: órgãos fiscalizadores com autonomia, no Brasil, é a mesma coisa que dizer “viva a corrupção!”).
Em entrevista recente na cadeia (acho que em mais de uma) ele demonstrou o quão “bom jogador” ele é: À época da reeleição de Dilma, já havia fila de empresários e políticos na porta dele, pedindo que ele viesse candidato, em 2014, mas ele disse “eu não poderia fazer isso com ela. Era um direito dela e eu tinha que respeitar”.
Conversando com um colega aqui do trabalho, construímos uma analogia do “lado desonesto” de Lula, com o Frank Abaganale Jr.  Se alguém “pegar uma safadeza” dele, ele apertará a mão da pessoa dirá “bom trabalho” e irá mansamente para a cadeia. Isso explica sua revolta tão grande com a farsa do Marreco e seu bichano, penso que Lula “toparia” ser preso, mas “honestamente”!
Lula pecou, no meu entender, ao não usar o seu cacife político para tentar bancar a reforma política, uma reforma justa da previdência e a reforma tributária. Ele sentou lá, se preocupou em acabar com a fome, dar estudo aos pobres, virar “potência mundial” e “só”, sem se preocupar em reestruturar o país, em “cessar o mecanismo” e, como um escorpião que você ajuda a atravessar o rio, o mecanismo “o picou” e junto com Lula, levou o PT, que ficou muito menor do que o barbudo e não consegue e/ou não quer desassociar as duas imagens.

Dilma

Rapaz, que mulher! Dilma é, para mim, quem deveria representar os ideais do PT de 1982, do PT que sonhava com um país honesto e limpo. Do PT que rachou, gerando o PSOL, quando Lula assumiu e mostrou que não moveria uma palha para mudar a bagunça. (Ver item 1 em destaque acima!).
Já ficou provado que ela foi arrancada do Planalto porque queria, verdadeiramente, acabar com a sangria. Queria manter os programas de Lula, queria o bem da população, mas sua incapacidade de articulação (ninguém é perfeito), leia-se agir gradativamente para alcançar o objetivo, levou o país a uma situação insustentável, porque, no segundo mandato, ela não governou, tudo o que tentou fazer foi barrado pelos que esperavam que ela continuasse “a política” de Lula. Pelo PSDB e DEM que brigavam e ainda brigam com o PMDB pelo controle real do país.
Dilma teve um primeiro mandato turbulento, mas foi ajudada pelas excelentes (vou repetir: excelentes!!!) condições econômicas deixadas por Lula. Desemprego baixo, economia aquecida, reservas cambiais na estratosfera. Não dava, mesmo que o PSDB quisesse, para atrapalhar o país... mas... em 4 anos... a crise mundial chegou e Dilma não tinha o cacife político de Lula, não tinha mais a força e o PT, apagado pelo barbudo, também não tinha mais como se segurar.
Dilma já foi inocentada das pedaladas (que sempre é bom lembrar, deixaram de ser crime, pouco tempo depois do golpeachment), de Pasadena e de muitos outros “crimes” que tentaram imputar a ela. Até hoje, não apareceu uma viva alma, para dizer “eu paguei um cafezinho para a presidente em troca desse ou daquele favor”, ela pode ter deixado passar grana para o partido, pode ter tido a campanha financiada por Caixa 2 (que, segundo Moro era mais grave que corrupção, depois deixou de ser mais grave), mas ela mesma, não é acusada de por 1 centavo que seja em seu bolso. Dilma deu força à Lava à Jato, reconduziu Janot ao cargo e caiu por isso.  Teve seu nome sujo na onda do “antipetismo” e perdeu as eleições para o Senado.
Aliás, o golpeachment foi recheado de anomalias, justamente em função da honestidade de Dilma. A maluquinha Janaína Paschoal chorou e se desculpou por ter representado contra nossa “presidenta”, o STF “rasgou a constituição ao meio” no parágrafo sobre impeachment, impedindo a presidente, mas mantendo-lhe os direitos políticos, tudo porque sabiam que estavam fazendo mais mal ao país do que bem, tudo em nome do status quo que culminou na eleição do traste.
Dilma tem um problema, quem viu o filme “O discurso do Rei” há de entender, para falar em público, mas, quem viu as respostas que ela deu no debate da reeleição a viu conversando nos bastidores em Democracia em vertigem, viu o quão inteligente ela é e o quão capaz pode ser.

Misturando as bolas

Para encerrar, cabe um último trecho, comparando Dilma a Lula e citando FHC e a Constituição de 1988.
Cabe dizer que, fazendo leitura corporal em entrevistas e imagens na TV, eu penso (minha opinião) que Dilma e Lula tem profundas divergências ideologicamente falando, mas nutrem um carinho e respeito um pelo outro que só a convivência traz. Os dois foram presos e torturados, mas as histórias são completamente diferentes. Lula não queria Dilma candidata, mas não teve escolha e respeitou o direito dela (como já disse) de concorrer à reeleição.
Anyway, a Constituição de 1988 foi construída para um Parlamentarismo que o plebiscito de 1993 não trouxe e gerou um sistema “híbrido” em que o Executivo vira refém do Legislativo, dando poder ao baixo clero, ao Centrão e às bancadas com suas bandeiras (como BBB, bala, bíblia e boi). FHC se aproveitou disso e, além do seu “engavetador geral da república”, governou 8 anos incólume a escândalos, derrubando seus primeiros ministros, de cabeça, me lembro de Mendonça de Barros e do “Serjão” (não me lembro mais do sobrenome).
Lula surfou na mesma onda. Aliás, Lula, como (a mim me parece) amigo de FHC, fez pouca coisa diferente de seu antecessor. Concentrou os programas sociais e criou o Bolsa Família, entre outras coisas, manteve os bancos bem alimentados (com efeito até os alimentou melhor) e divergiu severamente no quesito privatização. Só que duas coisas que Lula fez o destacaram: “cacarejou melhor” do FHC, como exímio comunicador, soube ganhar muito mais com os programas sociais e manteve o parlamentarismo velado, sendo que deixou seus primeiros ministros serem presos, Dirceu, Palocci, Gushiken (não me lembro se chegou a ser preso antes de morrer), são os de que me lembro agora.
No plano internacional, vejo uma grande diferença entre FHC e Lula. Enquanto o primeiro queria ser “o pequeno entre os Grandes”, isto é, figurar como um dos maiores países do mundo, ainda que sendo o “café com leite” da brincadeira, o barbudo queria ser “o grande entre os Pequenos”.
Ou seja, “olha, EEUU, Europa, aqui na AL, mando eu! FMI? Vá à bosta, venham cá, China e URSS, vocês são grandes, mas a malandragem tenho eu, Índia, África do Sul, cheguem mais aí, vamos criar nosso banco, a gente não precisa da Europa e dos EEUU! Atenção gigantes, para falarem com os pequenos agora, o interlocutor sou eu, resolvam aqui comigo primeiro.”. “O que é esse tal conselho de segurança? Tem poder? Tem influência? Eu quero sentar aí também!!”.
Emprestar dinheiro para fora? Isso não foi “caridade com coleguinhas”, o nome disso é Imperialismo. Sabe o que fazem aqui as grandes petrolíferas? A Petrobrás fazia na Bolívia! Muitos petistas eram contra essa postura! E nossos banqueiros ficaram bem felizes com isso. A possibilidade de calote sempre existiu, no minuto em que ameaçassem tirar o PT do poder!! Mas, ressalve-se, o povo brasileiro não foi prejudicado pela grana que saiu, mais do que foi pela grana que se esparramou aqui dentro nos bolsos da elite.
Dilma rompeu com o parlamentarismo velado, até tentou fazer de Mantega o seu primeiro ministro, mas a tendência à centralização foi maior do que ela. Por conta disso, “matou no peito” a maioria dos escândalos atribuídos ao governo dela, mas foi implacável, exonerou ministros por muito menos do que se prova contra Moro, bastaram suspeitas para afastar o arrogante Lupi. Muito se fala sobre ela ser grossa, mas, comparando com Lula e FHC (dois exímios vaselinas), até o Papa Francisco é um grosso! Internacionalmente, acho que Dilma não “fedeu nem cheirou”, apenas tentou manter a imagem deixada por Lula.
Com relação a apoiar ditaduras (não sei se é melhor do que “ser apoiado por elas” como nosso atual governo), Lula e Dilma sempre foram a favor “do jogo”, cada país se resolve internamente, inclusive acham que Maduro é ruim, mas ele tem que sair ou ser retirado pelo povo Venezuelano, não pelos EEUU.
Por fim, é isso, eu precisava por isso para fora de forma clara e direta. Não sou famoso, mas que venham os comentários, felizmente, sei que mínions não lerão um texto desse tamanho, especialmente com esse título, hehehehehe.

Obrigado por ter chegado até aqui,

Fique bem.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Biscoito ou bolacha?


Quero começar este artigo com uma pequena história que li há muitos anos como sendo da filosofia sufi e que não consegui encontrar, nem com o tio Google (achei uma parecida).

Certa vez, um grupo de homens se reuniu para encontrar a felicidade. Perto deles, estava o mestre do mal e um discípulo. O mestre do mal, então, disse ao discípulo: “Vamos levar estes homens à felicidade”. Assustado o discípulo perguntou: “Mas mestre, o que estes homens tem de especial para que o senhor os leve à felicidade”. “Nós descobriremos agora se eles têm”. Então, o mestre do mal pôs uma roupa metade verde, metade amarela e dirigiu-se ao grupo de homens, disposto a leva-los à felicidade. Aproximou-se e disse: “Eu sei o caminho para a felicidade, se quiserem alcança-la, basta me seguir”. Virou-se e começou a andar. Só que, quem o viu vestido de verde, passou a vê-lo de amarelo e vice-versa.  Os homens, então começaram a discutir se deveriam seguir o senhor de verde ou de amarelo e ficaram lá, parados, perdendo a chance de chegar à felicidade.

Essa história, para mim, resume muito bem nossa sociedade que vê, quase que exclusivamente, a forma e não o conteúdo. Houvessem os homens seguido o senhor, pouco importando a cor de sua roupa, teriam alcançado a felicidade.

Assim, dividimo-nos em negros e brancos, amarelos e vermelhos e todos os outros rótulos (gordos e magros, feios e belos, capazes e incapazes, a lista se estenderia por léguas), esquecendo-nos de que somos humanos, independentemente de nossas características. Afinal, podemos ser capazes para algumas coisas e incapazes para outras e assim por diante.

Entendo que esse tipo de visão onde a forma se sobrepõe ao conteúdo (quantas vezes, não ouvimos “você está certo(a), mas perdeu a razão pela forma como se expressou”?) faz com que discussões que poderiam ou deveriam ser meramente semânticas, acabem por se transformar em obstáculos ao bom senso e à boa convivência, muitas vezes, por má intenção de quem se envolve na discussão. É o que chamo de A semântica em desfavor do bom senso.

Afinal, o que são as palavras senão a forma daquilo que querem significar? Quantas palavras não têm (ou tiveram ao longo do tempo) seu significado alterado e até invertido. Quantas vezes, a ironia não se faz presente?

Vou falar aqui sobre exemplos polêmicos e sérios, de grande amplitude, nos quais, em minha visão, a semântica foi usada de forma ardilosa e até mal-intencionada para se atingir um objetivo ou vencer uma disputa. Três exemplos relacionados à inclusão e ao preconceito.

(Parêntese longo: Cabe observar que, às vezes, rótulos são criados e determinadas idéias ou projetos são abandonados ou jogados fora, sem que se entenda direito o que significavam. Um bom exemplo é o “kit gay”. Rótulo colado pela bancada evangélica num projeto de combate à homofobia e que foi um dos grandes pilares da eleição do atual presidente. Houve um material preparado para professores? Sim, houve. Só que não era e nunca foi objetivo do projeto levar conteúdo impróprio para crianças, mas o rótulo aliado ao livro “fake” carregado à tiracolo pelo então candidato e exibido em horário nobre em rede nacional, sem ser desmentido, levou milhões a acreditarem numa falácia! Fim do parêntese).

O primeiro exemplo vem de um um ótimo artigo de Neivia Justa, que li noutro dia onde, ela (e já vi muitas outras pessoas fazendo o mesmo) questiona e aponta como racista a expressão “a coisa está preta”. Então, nos comentários do artigo, pontuei que filosoficamente, utiliza-se, não raro, o contraste entre luz e trevas, entre claridade e escuridão, por exemplo, as trevas da ignorância em contraponto à luz do conhecimento. Por definição a cor do escuro é o preto e a cor do claro é o branco. Eu nunca fiz uma leitura racial da expressão “a coisa está preta” e suas variações. Penso que os negros merecem reparação histórica pelo que sofreram, penso que o racismo está longe de acabar, não só no Brasil como no mundo de uma forma geral, mas penso que enxergar no “preto” de “a coisa está preta” um demérito aos negros seja “forçar a barra”. Como resolvemos este dilema? É uma questão semântica apenas?

O segundo exemplo é o do “casamento gay”. Ora, eu sou defensor ferrenho da possibilidade da união entre pessoas do mesmo sexo, de que possam adquirir propriedades em conjunto sem que, na eventualidade da morte de uma das pessoas, sua família não venha tomar da outra todos os bens adquiridos em conjunto, porque estão no nome de quem faleceu. Pensemos, contudo, que: casamento é um sacramento “de propriedade” das religiões (como diria o palestrante Waldez Ludwig) “desde Adão e Eva”, daí que, brigar pelo “casamento gay” é, numa visão que penso ser bastante pertinente, brigar para que as religiões aceitem e abençoem esta união. Uma luta inglória. Não se pode exigir que uma religião altere seus dogmas (concordando-se com eles ou não). Por que não se utilizar uma expressão que seria menos polêmica como “União civil” ou “Parceria civil”? Entendo que seja má intenção daqueles que propositalmente querem criticar a religião (o que é um “tiro no pé”) ou dos que desejam criticar a própria união em si.

O último exemplo que quero citar é mais complicado, também relativo às pessoas LGBT, é a “cura gay”. Senão vejamos: “ser gay” não é uma doença (eu acredito nisso e defendo isso), por outro lado, eu entendo que ninguém pode impedir (minha opinião!!) um psicanalista (psicólogo, psiquiatra) de ajudar alguém que, não nos interessa por qual motivo, queira deixar de ter sentimentos e desejos homossexuais tampouco se pode impedir uma pessoa de pedir este tipo de auxílio.  O rótulo “cura” leva à implicação semântica da oposição à doença e, por isso, gera o conflito.

(Outro parêntese longo:  Por favor, não se zanguem comigo aqueles que (como eu!!) são totalmente contra a LGBT-fobia, não sei que nome dar a este tipo de tratamento. Certamente, penso que “terapia de reversão sexual” também não seja palatável, mas é menos agressivo do que “cura gay”.

Cabe a pergunta aqui: “Por que precisamos de um rótulo?”. Por que não “apoio às pessoas que querem deixar de sentir desejos, para elas, incompatíveis com seu gênero?” essas pessoas não têm esse direito? (em último caso, o que se faz entre as paredes do consultório é problema do paciente e do analista, não é? Claro, salvo se o segundo abusar do primeiro! Aí será, certamente,  problema da Justiça).

E se alguém hétero resolver pedir auxílio a um psicólogo para se tornar trans? Pois é, sinto-me mal por levantar um argumento – talvez – típico dos “conservadores de plantão”, caindo no dilema de meu último artigo. Mas penso que a questão precisa ser avaliada por vários ângulos.

Esse tópico é longo. Psicólogos são proibidos de oferecer esta ajuda (e, neste ponto, eu concordo: atender a um pedido em particular é uma coisa, “propagandear” é outra!). Há alguns anos, alguns mais conservadores conseguiram uma autorização, cassada há poucos dias.

Só para deixar bem claro: Entristece-me que muitas pessoas (sei lá, ainda que 100% das pessoas que) busquem(buscam) esse tipo de tratamento de “reversão”, (o façam) por motivo de pressão da sociedade ou de “ideologia de credo”, mas, não interessa a mim, não cabe a mim, fazer “pressão ao contrário”, nem na pessoa, nem no psicólogo que se disponha a ajuda-la. Ao contrário, essa pressão pode – quem sabe? – reforçar o discurso débil da “ditadura gay” –não vou entrar no mérito desse rótulo aqui! Fim do parêntese). 

Novamente, usar esta expressão (“cura gay”, não se perca em minha prolixidade) é, penso eu, má intenção de quem quer impedir os psicólogos e aqueles que se sentem incomodados com sua condição de agirem para interrompê-la ou daqueles que fazem questão de afirmar que esta condição é uma doença (aqui, o “tiro no pé”).

Eu poderia citar muitos outros exemplos menos polêmicos, exemplos cotidianos, em que uma discussão que é semântica (todos querem dizer coisas diferentes, mas querem utilizar a mesma palavra para defini-las ou, ao contrário, querem usar palavras diferentes para definir a mesma coisa) acaba por criar um impasse insolúvel, uma cizânia desnecessária, um obstáculo ao bom senso e à boa convivência.

Como bônus, trago uma reflexão adicional. Um vídeo do canal Jesus na veia do Youtube (não conheço o canal, só vi este vídeo) em que um Ganês, preto (quem vir o vídeo entenderá), que traz uma ideia muito boa e uma comparação entre os termos negro e preto. É só semântica?

Afinal, é bolacha ou biscoito??

Fique bem