by Ginnungagap

Afirmar é não negar, mas não negar não é afirmar!! O contrário também é verdadeiro.

terça-feira, 3 de março de 2015

Diferentes com respeito

O pior cego é o que não quer ver,
Talvez,  um problema da idade
O sujeito não tem o que dizer
Logo, busca a agressividade

Olhamos o mundo ao nosso prazer
Afinal, somos a humanidade
Respeito,  porém, é preciso ter
Gente é igual a diversidade.

Um momento acalorado pode
Mesmo que sejamos eruditos
Ensejar uma resposta dura

Nem mesmo a amizade mais pura
Tem imunidade a conflitos
A melhor opção, dizer: não ferra!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A "culpa" é do FHC...

Sobre FHC e o PT.

Permitam-me começar repetindo algo que os fanáticos e radicais não entendem: Eu não "torço" nem pelo PT nem pelo PSDB.

Sim, votei na Dilma e, se o tempo voltasse e a eleições ocorressem novamente,  desta vez, eu sabendo que ela sucumbiria à cartilha neoliberal,  o que mudaria em minha ação é que eu não sairia de casa para votar. Teria justificado meu voto como nas eleições anteriores. 

Isto posto,  gostaria de dizer algumas coisas aos "torcedores", partidários, ideologicamente afetos ao PSDB e todos os demais que ficaram "zangadinhos" porque Dilma jogou no colo de Fernandinho (o intocável) uma grossa parte na responsabilidade pelo que ocorre (sempre ocorreu e duvido que deixe de ocorrer algum dia) na Petrobràs:

1) A culpa pela corrupção na estatal do petróleo pesa sobre todos (sem exceção) os que governaram o país desde que existe a PETROBRÁS (tá, pode ser que o Getúlio escape dessa lista)... todos poderiam ter resolvido o problema, mas nenhum resolveu. Ao contrário, ou foram coniventes ou ativamente participativos nessa verdadeira "farra do boi" que é a gestão financeira da Petrobrás... Nem vou entrar no mérito das outras empresas estatais e ministérios...

2) FHC "roubou" o plano real de Itamar (e, de fato não "é" de nenhum dos dois, mas Itamar foi quem teve o peito de implementá-lo!), diz que o Bolsa Família é criação sua... Oras, Tudo o que de bom ocorreu no governo do PT, segundo Fernandinho, é herança de seu governo... Já, ainda segundo nosso amado ex-presidente, tudo o que aconteceu de ruim, "nunca antes na história do país" havia acontecido! A culpa disso é um pouco do PT, ainda que os governantes em geral usem a política do é bom é meu, é ruim é do outro, Lula e seu bordão "nunca antes na história desse país" trouxeram isso para si, se querem todos os louros que fiquem também com todo o lodo... Dilma está muito mal assessorada, seja por burros ou por cafajestes, não era hora para uma declaração dessas...

3) partindo do pressuposto de que a culpa seja exclusivamente do governo atual,  gostaria de lembrar aos tucanos que foi FHC quem levou o PT ao governo. Sim! Foi sua vaidade ao ver Aecinho derrotado na corrida à candidatura de 2002, que o fez não subir no palanque de Serra, salvo à beira da eleição, que fez Serra gagejar em todas os debates quando perguntado sobre continuismo... 

Parêntese: (Tudo bem que as táticas de Serra (v. A privataria tucana) também ajudaram a derrubá-lo. Ele usou de seus truques sujos contra Roseana Sarney, é época com excelentes intenções de voto para presidente e representante do grupo que manda de verdade no país e, também por isso, caiu! E arrisco dizer que nunca será eleito para nada fora de São Paulo).

4) Como disse, com todas as letras,  em uma entrevista,  o finado (mas não refinado) Caixa D'água (Eduardo Viana,  nefasto ex-presidente da federação de futebol do Rio de Janeiro): "quem tem poder e o perde é burro ou fraco"... Lula não é nenhuma das duas coisas,  tio Fernando foi uma das duas ou ambas, em função de sua vaidade... Portanto,  se há culpa e ela é de Dilma, ela é de FHC... Não adianta chorar... 

5) Por fim, FHC entregou o ouro e o PT não vai largá-lo. Como Caixa D'Água que só deixou a presidência da FERJ ao morrer, o PT está há 12,5 anos no poder e ainda não perdeu completamente o apoio do PMDB. Collor caiu, porque foi por demais ganancioso, subiu rápido, desceu rápido... Lula esperou pacientemente por 20 anos pela oportunidade e já tem informações suficientes para derrubar muita gente junto com ele...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Porandubas do Torquato...

Reproduzo a deliciosa coluna de Gaudêncio Torquato, publicada no site Migalhas. Gosto muito da análise que ele faz do cenário político nacional... Vale a pena visitar o site também.
Atenção para o trecho que destaco em azul...


Blessed be...

Porandubas Políticas
por Gaudêncio Torquato

Porandubas nº 432 (quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015)
Água, água
Nesses tempos de falta d'água, uma deliciosa historinha sobre o "precioso líquido", que vem dos confins da gloriosa PB :
Brejo das Freiras é uma Estância Termal nas lonjuras da PB, lá perto de Uiraúna e Souza. Trata-se de um lugar para relaxamento e repouso. O governo da PB tinha (não sei se ainda tem) um hotel, com uma infraestrutura para banhos nas águas quentes. Década de 70. Apolônio, o garçom, velho conhecido dos fregueses da região, recebe, um dia, um hóspede de outras plagas. Pessoa desconhecida. Lá pelas tantas, quase terminando a refeição, o senhor levanta a mão, chama Apolônio e pede :
– Meu caro, quero H2O.
Susto e surpresa. Anos e anos de serviços ali no restaurante e ninguém, até aquele momento, havia pedido aquilo. Que diabo seria H2O ? Apolônio, solícito :
– Pois não, um instante !
Aflito, correu na direção da única pessoa que, no hotel, poderia adivinhar o pedido do hóspede. Tratava-se de Luiz Edilson Estrela, apelidado de Boréu (por causa dos olhos grandes de caboré), boêmio e galanteador, acostumado aos salamaleques da vida.
– Boréu, tem um senhor ali pedindo H2O. O que é isso ?
Desconfiado, pego sem jeito, Boréu coça o queixo, olha pro alto, tenta se lembrar de algo parecido com a fonética e, desanimado, avisa :
– Apolônio, sei não. Consulte o Freitas.
Freitas era o diretor do grupo escolar, o intelectual da região. Localizado, o professor tirou a dúvida no ato :
– H2O é água, seus imbecis. Quer dizer água. Água. Ignorantes.
Apressado, Apolônio socorreu o freguês com uma jarra do líquido. Depois, no corredor, glosando o feito, gritou em direção a Boréu :
– Ah, ah, ah, esse sujeito lascou-se. Achava que nós não sabia ingrês.
As crises e a índole
As crises se integram para formar as nuvens de uma tempestade perfeita : crise econômica, com recessão e retração do PIB em 1% este ano ; aumento de impostos ; juros altos ; poder de compra reduzido, etc. Crise política, com rebuliço no Congresso, a partir da relação de nomes envolvidos no petrolão ; nova legislatura, com presidente da Câmara eleito contra a vontade do Palácio do Planalto. Crise hídrica, com a falta de chuva secando o poço da imagem dos governantes e mexendo com o ânimo dos consumidores. Crise energética, com grandes riscos de apagões no segundo semestre deste ano. Crise social, com as ruas infladas de movimentos indignados. Crise de confiança. Crise de credibilidade. Que isso tem a ver com a índole dos governantes ? A índole contribui para apertar os cinturões das crises ? Resposta : sim !
A índole de Dilma
Dilma, a mandatária-mor, tem ojeriza à política nos moldes como nossa cultura ordena : balcão de recompensas, troca-troca, benefícios, votos sob influência do orçamento, cargos nas estruturas do governo, etc. O corpo político sabe disso. E aproveita para jogar mais lenha na fogueira. Se a presidente não tem disposição para cozer o feijão com o arroz da política, que arrume bons cozinheiros para sua cozinha. Ora, ela escolheu três gourmets gulosos : Aloizio Mercadante, Pepe Vargas e Miguel Rossetto. Que não são craques na articulação política. Falta-lhes o jogo de cintura. Por isso mesmo, a imagem do governo vai mal. E a presidente, com sua índole, contribui para expandir os atritos e conflitos.
A imagem dos governos
A imagem dos governos é a projeção de sua identidade. E a identidade é a soma dos conteúdos – ações, programas, promessas, rotinas, processos, sistemas, projetos, etc. Se os conteúdos não estão se desenvolvendo a contento, não há milagreiro que possa melhorar a imagem dos governos. Não há comunicação capaz de provar que o Brasil está vivendo momentos de fartura : água, energia, bons transportes, alimentos baratos, felicidade geral. O engodo não resiste à realidade. Não se tapa o sol com peneira. Os buracos não deixam. A imagem é, portanto, resultado do que se faz, do que se opera, do que se percebe. E a cognição social sobre o governo Federal não é boa.
Limpando a imagem
O que se pode fazer é uma limpeza periódica no painel da imagem. Nesse caso, os comunicadores dos governos devem trabalhar com as cinco pernas do marketing institucional : a pesquisa, o discurso, a comunicação, a articulação e a mobilização. Pela pesquisa, identificam-se os pontos positivos e negativos da imagem. O discurso precisa ser composto a partir dos inputs da pesquisa. Nesse ponto, cabe lembrar que o discurso comporta programas e projetos mais adequados para responder às demandas sociais. A comunicação abre as pontes do governo com a sociedade, levando suas ideias e intenções. A articulação complementa o esforço de ajustamento com os exércitos da política e dos movimentos sociais. E, por último, a mobilização é o motor que gira a agenda dos governantes : visitas às regiões, contatos com as massas, encontros com grupos organizados, etc.
Quem pensa assim ?

Perguntinha do momento : há alguém no governo que pense dessa forma ? Há alguém que entenda de comunicação e marketing como ferramentas estratégicas ? Quem faz a ligação entre os elos – pesquisa, discurso, comunicação, articulação e mobilização ? Thomas Traumann, o ótimo jornalista da grande mídia ? Mercadante, um ex-senador com fama de auto-suficiente ? Rossetto, um quadro da militância preocupado em abrir diálogo com os movimentos sociais ? Ou João Santana, o perito na arte publicitária, produtor de firulas nas campanhas de propaganda ? Comunicação governamental é algo mais complexo que campanha publicitária ou briefings jornalísticos para orientação da presidente.

O périplo de Lula
Lula está montando sua estratégia para tentar resgatar o vetor de peso da presidente Dilma. Como se viu pela pesquisa Datafolha, ela perdeu 40 pontos na boa avaliação. Lula vai viajar Brasil afora, mas em vez de rápidas passagens, deverá permanecer nas regiões alguns dias e mesmo semanas. Tentativa de correr o interior dos Estados, falando com prefeitos, vereadores e lideranças políticas e institucionais, a par de movimentos sociais. É claro que nessa nova caravana do lulismo, ele estará jogando seu nome nas ruas. Se essa for realmente a ideia, há um lado perverso na estratégia : antecipa o final do governo Dilma. O Volta, Lula assumirá maior visibilidade que o governo Dilma.
A estética
À guisa de provocação : Você imaginaria Jesus Cristo sem barba ? E Abraham Lincoln, seria o mesmo sem a barba ? Que tal um Ghandi cabeludo ? Elvis Presley sem o topete teria o mesmo charme ? O código estético é o primeiro a se infiltrar na mente.
Geraldo cai
Geraldo Alckmin também caiu na lorota de afirmar, por vezes seguidas, que não haveria falta d'água em SP. Teve queda de 10 pontos na imagem positiva. Pois bem, o racionamento já começou, apesar da tentativa do governo de disfarçar a decisão. No melhor cenário, se chover muito, a água vai faltar lá para os meados do segundo semestre. O que exigirá forte racionamento, algo como cinco dias de racionamento por dois dias de água na torneira.
PMDB e PT
Não interessa ao PMDB discutir coisas como impeachment, etc., como muitos pensam. O que há é muita especulação em torno do tema. Interessa mais que o PT deixe a arrogância de lado e seja mais parceiro dos partidos de base.
Levy segura a peteca ?
Gente de estofo na economia garante que o esforço de Joaquim Levy dará com os burros n'água. A retração puxará o PIB para a banda negativa. Sem crescimento, o país ficará patinando. Sem sair do lugar. Desemprego, nesse cenário, expandiria o Produto Nacional Bruto da Infelicidade.
Três historinhas

1. Condenado à morte por corromper a juventude, Sócrates, o filósofo, recusou a oferta para fugir de Atenas sob o argumento de que seu compromisso com a polis não lhe permitia transgredir as regras. Os gregos cultivavam o respeito à lei.
2. Lúcio Júnio Bruto, fundador da República Romana, libertou seu povo da tirania de Tarquínio, derrubando a monarquia. Mais tarde, executou os próprios filhos por conspirarem contra o novo regime. Pregava o poeta Horácio : "Doce e digno é morrer pela Pátria".
3. Outro romano, rico e matreiro, conta Maquiavel no Livro III sobre os discursos de Tito Lívio, deu comida aos pobres por ocasião de uma epidemia de fome e, por esse ato, foi executado por seus concidadãos. O argumento : pretendia tornar-se um tirano. Os romanos prezavam mais a liberdade do que o bem-estar social.

O melhor enredo ?
Os relatos sugerem a seguinte pergunta : qual dos três personagens se sairia melhor caso o enredo ocorresse dentro do cenário da política contemporânea ? O terceiro, sem dúvida. Não seria executado por alimentar a plebe, mas glorificado, mesmo que por trás da distribuição de alimentos escondesse a intenção de alongar um projeto de poder. Essa é a hipótese mais provável em países, como o Brasil, de forte tradição patrimonialista e com imensas parcelas marginalizadas e carentes.
FHC no Lava Jato ?
O ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, afirma que a era FHC também entra na Operação Lava Jato. É o caso de conferir. Cada ciclo deve ter suas contas abertas.
Em Cuba
A propósito, Fernando Henrique e sua mulher passarão o carnaval em Varadero, em Cuba, a charmosa praia cheia de hotéis cinco estrelas, que os cubanos não podem frequentar. Terá encontro com Fidel ? Não pensem nisso. A imagem seria um estraga-prazer no carnaval dos tucanos.
Justiça do Trabalho
A Justiça do Trabalho é o fulcro dos gargalos no Judiciário. Acusada de expandir a burocracia e de legislar. Esforça-se para segurar velhos processos e métodos com o objetivo de evitar perda de poder. Quanto mais poder de punição, mais forte fica. Daí ter se posicionado contra novas regras para a flexibilização das relações capital/trabalho.
600 emendas
A MP com mudanças na legislação trabalhista deverá receber uma enxurrada de 600 emendas no Congresso. Vai ser difícil alcançar consenso.
PEC da Bengala
A PEC da bengala começa a andar. Já não se trata de hipótese impossível a aposentadoria dos juízes aos 75 anos.
Ativos e passivos

John Stuart Mill, um dos pensadores liberais mais influentes do século 19, classificava os cidadãos em ativos e passivos, aduzindo que os governantes preferem os segundos, mas a democracia necessita dos primeiros. A comparação do filósofo inglês, pinçada por Norberto Bobbio em seu livro "O Futuro da Democracia", expressa, ainda, a ideia de que os súditos são transformados num bando de ovelhas a pastar capim uma ao lado da outra. Ao que Bobbio acrescenta : "Ovelhas que não reclamam nem mesmo quando o capim é escasso". Pois bem, por estas bandas, apesar do capim farto, equinos, caprinos e bovinos rompem o cabresto e saem dos currais. E mais, não querem ser comparados a animais irracionais e dóceis. A notícia boa é que a imagem acima desvenda um Brasil cidadão que decidiu expurgar o passado do voto amarrado à distribuição de benesses e à opressão dos senhores feudais da política.

À guisa de conclusão
"Misia Sert dominava a arte de caçar moscas. Estudava pacientemente os modos destes animais até descobrir o ponto exato em que havia de introduzir a agulha para pregá-las sem que morressem. Exímia na arte de fazer colares de moscas vivas, entrava em frenesi com a celestial sensação do roçar das patinhas desesperadas em seu colo."
Conto de Elias Canetti. Um flagrante das esquisitices humanas.
E assim caminha a humanidade...