by Ginnungagap

Afirmar é não negar, mas não negar não é afirmar!! O contrário também é verdadeiro.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Religiência. E o verbo era "Bang".


Quero começar dizendo o que sempre digo, que ciência e religião não são excludentes e antagônicas. Com efeito, acredito que o estudo da natureza, a observação e medição, análise e descrição de fenômenos sejam tão religiosos quanto uma oração. Outra coisa que sempre digo é que não aceito a antropomorfização do universo, a humanização da existência. Ultraja-me essa limitação cognitiva que nos impele a utilizarmos a nós mesmos como parâmetro para qualquer estudo, o que fez com que o homem primitivo desse "olhinhos, nariz e boca" ao Sol e que, num dia nublado, caísse de joelhos pedindo a esse Deus que não o abandonasse, a mesma ridícula analogia que descreve "formigas ciumentas" e "orquídeas vaidosas" em nossos documentários. Do mesmo modo, não aceito um Deus "zangadinho" porque alguém não falou corretamente sobre ele. (Sobre as relações entre o comportamento e universo, cabe escrever outro post).

Isto posto quero deixar clara minha posição de que "não sei" explicar metade (sendo otimista) das coisas com as quais convivo, sequer chego a observá-las. Acredito, todavia, que pode haver uma explicação para "tudo" e que talvez ela seja até bem simples. O que não aceito é a posição radical de religiosos e cientistas (ateus) de que ou as coisas são "obras de Deus" (pura e simplesmente, assim: O "almighty" acordou constipado e resolveu destruir um vilarejo na costa do Sudão, por quê? Sei lá, porque ele quis ou, pior: Simples, porque eles não acreditavam nele como nós acreditamos.) ou são "por acaso" (tudo o que eu não sei explicar acontece por "coincidência". Ah, eu peguei o ônibus errado e encontrei nele o amor da minha vida, mas foi "por acaso")... Vão todos esses, ateus radicais e religiosos radicais praticar intercurso consigo próprios. (No ofense). Aceito tranquilamente a idéia de que "coisas acontecem e estão além da minha capacidade de compreensão" e que para serem válidas não necessariamente devem acontecer todas as vezes em que eu reproduzir as mesmas condições.

Um dia, quem sabe compreenderemos. A religião descreve a iluminação, o Nirvana, o "arrebatamento", a "re-ligação" com o sagrado do qual nos desprendemos (e eu não sei o porquê!!). Acho que isso pode acontecer individual ou coletivamente ("se dois ou mais se reunirem em meu nome, mais forte a minha presença!" God Almighty, minha livre reprodução.). Creio que com o nível de vida e com as "amarras" que nos impomos hoje em dia a primeira opção seja improvável, mas ainda acredito na segunda opção (no dia em que deixar de acreditar, mato-me, sem o menor resquício de dúvida). Por acreditar nisso, estou sempre pronto a me "abrir", a me "entregar" em meus relacionamentos com outros seres humanos (não acho que um cão vá me ajudar em minha iluminação, mas "seu" Francisco deve ter descoberto "alguma coisa"...). Anyway, essa questão do relacionamento também é para outro post...

Hoje há muitos cientistas tentando "provar" a ineficácia ou, ao contrário, a "acurácia" da religião e muitos religiosos tentando se apoiar na ciência para "autenticar" seus dogmas. Eu não vou aqui tentar reescrever o que brilhantemente o fez Frijof Capra em "O Tao da Física". A incursão da ciência no mundo subatômico já mostrou que em diversos momentos fé e axiomas se misturam, sem prejuízo do valor de um ou de outro.

A sociedade bipolar ocidental, como sempre digo, atrapalha-se cada vez que tenta separar religião de ciência e de filosofia. Eu tive um muito brilhante professor de física na faculdade que tentou "ser imparcial" (grande Ildeu, umas das mentes mais bem dotadas que eu tive o privilégio de conhecer). Ele disse: "Os antigos acreditavam que havia um anjinho por trás da Lua, impedindo-a de se afastar da Terra. A ciência não se preocupa com isso. A questão é: Se houver o anjinho ele vai fazer uma força F=ma." ... Muito legal o Ildeu. Gostaria que todos os cientistas fossem assim e reconhecessem a sua limitação. O que enxergam é um “recorte da realidade” não ela toda.

Foi ele quem me inspirou a formular a frase que, eventualmente repito para meus amigos "E o verbo era bang". Acho que os livros religiosos foram os primeiros livros de ciência. Até que alguém o "pai da epistemologia" descobriu que alguma coisa só poderia ser válida se repetida a exaustão sempre que sob as mesmas condições e se seguissem convenções e regras que alguém primeiro determinou. Ora, lamba-se sabão, como podemos garantir que a distribuição de componentes do ar à nossa volta é constante? Então não podemos afirmar que sempre repetimos as mesmas condições. E não podemos afirmar, no longo prazo que obtivemos o mesmo resultado. E mais, quem dá a alguém o direito de definir e limitar à sua compreensão um determinado "naco" da realidade só porque foi quem primeiro olhou para este naco?

Eu sempre discuti com meu pai que morreu religioso evangélico cristão radical que se aprendemos a "ler" a relação entre os astros e nosso "possível" comportamento, quem disse que não é "a vontade de Deus"? Por que não é Deus quem nos dá a habilidade de recriar outro ser humano? Se alguém "lá no céu" vai ter que soltar mais um pum e preencher uma nova alma, problema, a gente aqui está produzindo, que produzam lá também... Os astrônomos vivem tentando "desmascarar" os astrólogos, mas não reconhecem que foi na arte da adivinhação pelos astros que surgiu a sua ciência... Plutão não é mais planeta, o céu não tem mais a mesma posição... Balela... apenas formas de desacreditar desafetos.

Tenho a convicção de que Deus (qualquer um antropomórfico) foi uma invenção para "controlar massas". Como dizer a um camponês da idade média que um "ser microscópico" vai comer o seu dente se você não o limpar? Como convencê-lo a ficar com fome para repartir a comida com outro? Como separá-lo de seus instintos básicos? Simples: Deus mandou! Na mesma linha de raciocínio, as analogias bíblicas também objetivavam (lembre-se a Bíblia foi escrita há pouco menos de 2000 anos para pessoas totalmente ignorantes!) explicar assuntos inexplicavelmente complexos a pessoas que mal enxergavam além de seu próprio umbigo. Mais ou menos como nós hoje em dia, o problema é que, com cultura, fazemos nosso umbigo ser o centro do Universo com fundamentação acadêmica. Como explicar a um camponês 7 (sete) "eras geológicas" de formação da terra desde que era uma nuvem de matéria esparsa no espaço? "Meu filho, foram 7 dias..." mais adiante, decifra-se o código, "para Deus, um trocentilhão de anos e um segundo são a lesma lerda!!" (Again, God Almighty, minha interpretação)...

Cabe explicar aos religiosos que pelo fato de que alguns relatos bíblicos estejam corretos, a interpretação ou, antes, o contexto que se lhes dá nas escrituras não necessariamente estarão. Vá lá, encontraram resquícios de um barco no Monte Sinai (ou sei lá qual outro monte) isso não torna "magicamente" correta e acurada a história do dilúvio. "Ah, mas tinha fóssil de cocô de vários bichos perto...", "Ufa, então está tudo bem. Ficou certo agora!". Sei lá, um maluco resolveu construir um zoológico e foi buscar seus bichos de barco (o primeiro biocontrabandista da história), alguém viu e... "Caraca! Deus vai inundar o mundo!!"... Então, amigos evangélicos, não me venham com esse papo de "a ciência comprova a bíblia", eu não tenho uma fazenda na qual exista gado com problema de insônia.

Muitas coisas nós simplesmente não sabemos e (que fique entre nós) simplesmente não saberemos in this lifetime. "Tudo o que sei é que nada sei." é a coisa mais inteligente que já escutei em relação à existência. Se aceitarmos viver com isso, talvez consigamos, algum dia evoluir de verdade.

Blessed be.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Mercenários sem direção...

Nunca deixamos a escravidão. O Brasil sempre teve como "marca registrada" a relação incestuosa entre povo e elite com a Classe Média espremida no meio servindo de preservativo para essa orgia desenfreada.

Sempre fomos o país do atravessador, do explorador. Agora, mais do que nunca isso está de volta. Há alguns anos, aprovou-se uma lei segundo a qual governos não podem gastar mais do X % (acho que 60%) de seu PIB com folha de pagamento. Como todas as leis que "precisam pegar" aqui nesse país, esta também foi "devidamente driblada" (a analogia como futebol é mais do que cabível aqui!).

Em vez de reduzirem suas folhas inchadas, os governos das três esferas descobriram um novo meio de contratar pessoal: a terceirização. Assim, uma prefeitura ou governo, não contrata funcionários, mas contrata uma única empresa que lhe "presta um serviço" ao qual está "agregada" a mão-de-obra. Et voi lá: Voltamos aos "mercadores de escravos".

A "teta" é tão boa que até as empresas privadas (grandes conglomerados) resolveram deleitar-se nela. Pessoas viraram "recursos" e são trocadas como se troca um computador com defeito. Sem preocupação com direitos trabalhistas, com mudanças de humor ou qualquer outra característica humana.

Os terceirizados por sua vez, viraram uma categoria à parte. Mercenários, para não dizer prostitutas (com todo respeito às mães dos deputados), correndo atrás do maior salário, sem compromisso com quem assina sua carteira ou com a empresa para a qual verdadeiramente trabalham. Não têm confraternização de fim-de-ano, não têm sindicato (o efeito dos que existem é o mesmo que não existir) não tem motivação... Já ouvi a pérola dita por um suposto administrador de que "motivação é ter emprego!".

Há empresas públicas em que as pessoas trabalham há anos trocando periodicamente de empregador, ao sabor dos vencimentos dos contratos. Para alguns isso é o "crème de la crème" dos empregos, afinal, recebe-se o FGTS a cada período...

As pessoas não querem trabalhar. Pergunte a seus amigos "O que você faria se ganhasse na loteria?"... "Ah, eu nunca mais ia trabalhar na minha vida!!"... Como pode um país com esse tipo de mentalidade ir à frente? Não me julgo melhor do que ninguém (isso vai valer outro post), mas acho que cabe fazermos a reflexão. (Vai ficar para outro post também a relação dos bancos com o poder e com a produção! Aliás, vou fazer uma série de posts sobre os bancos, é de "fazer vomitar").

As pessoas verdadeiramente qualificadas acabam por conseguir emprego "de verdade"  e os outros vão por aí, mendigando espaço e torcendo por uma chance de estar no lugar certo, na hora certa. (No meio do trilho quando o metrô vem chegando, por exemplo).

O pior é que com a educação sucateada, um diploma hoje se ganha na padaria, como brinde na compra do pãozinho, o futuro não é animador, o ciclo vai sendo alimentado com pessoas cada vez mais querendo "se encostar" no estado, que ganha dinheiro aos borbotões explorando o desemprego que ele mesmo causa através de concursos que não vão contratar 1/100 das pessoas que pagaram a inscrição...

Aliás, acho que você só deveria pagar a inscrição num concurso, depois de aprovado. O governo não deveria poder cobrar por dar oportunidade de emprego às pessoas a quem ele deveria dar educação e emprego.

Anyway. Ainda assim, sou otimista. Acredito que vou conseguir ajudar meus filhos a "cavarem" seu lugar à sombra (porque o sol é para todos, né?), acredito que vou ajudar meus alunos a serem pessoas e profissionais qualificados, para, quem sabe, um dia quando eu não estiver mais vivo, daqui a algumas gerações, a gente poder "bater no peito" e dizer com a boca cheia: "Ainda bem que eu saí do Brasil e estou aqui na Europa!".

Blessed be...

Ok... às vezes ou sutil demais... Muitos podem não entender que a "frase final" foi um "truque com as palavras". Quis dizer que o Brasil vai deixar de ser o Brasil e vai "virar" Europa...


Anyway...

Again: Blessed Be.


No more Mr. Nice Guy e a pílula vermelha.

Hi, there friends.

Antes de começar este post, preciso falar de House, para quem não o conhece. House é o nome de um desses "enlatados" que pululam na TV a cabo, um dos bons, também o nome do protagonista da série, um médico amargurado, mas brilhante, capaz de diagnosticar as mais insólitas doenças utilizando as mais insólitas técnicas. Ele zomba de sua equipe e de seus superiores, não liga (aparentemente) para os pacientes... Esse é House, interpretado brilhantemente por Hugh Laurie (ele mesmo! O pai de Stewart Little).

Anyway, na 4ª temporada, o 13º episódio chama-se "No more Mr. Nice Guy". Fala sobre um sujeito que namora uma das enfermeiras do hospital onde House trabalha. Esse sujeito é extremamente bom, um verdadeiro Ghandi, sempre vê o lado bom de tudo. O tipo de pessoa que não existe. Para se ter um exemplo, no começo do filme, os enfermeiros estão em greve, um courier vai passar pelo meio da manifestação e a namorada de Mr. Nice diz "temos o direito de impedi-lo por 15 segundos", o cara joga seu carrinho em cima da mulher com agressividade... como Mr. Nice reage? Ele diz "respire" e abraça o cara!! Nesse momento ele tem um desmaio. House o encontra na enfermaria que está em total caos por causa da greve. O cara está lá, quase o dia inteiro (duas refeições à sua frente indicam isto), sorrindo para todos e sem vontade de reclamar...

House não aceita isso, cisma que a amabilidade (niceness) de Mr. Nice é um sintoma de uma doença. Ao final (siiim, vou ser spoiler!), House estava correto. Mr. Nice tinha doença de Chagas incubada por anos, mas lentamente inchando seu cérebro, o que alterou sua personalidade. Ao longo do filme discute-se o que forma o caráter de uma pessoa, uma frase da namorada enfermeira é muito boa "Você está dizendo que eu estive casada por 11 anos com um sintoma?"... Vale a pena ver o episódio (não sei postar vídeo aqui no blog, mas baixe "por aí" (http://www.seriesfree.biz/2009/03/house-md/))...

O episódio termina  com Mr. Nice Guy descobrindo que não gosta mais de Ketchup e pergunta a uma intrigada namorada "Do que será mais que eu não gosto?".

Mr. Nice é obrigado a tomar a pílula vermelha que Neo pode escolher (ahhh, não vou perder tempo resumindo Matrix), aquela que o levou a conhecer a Verdade.

Ultimamente, venho passando por (mais uma) de minhas "teen ager crisis"e um amigo (é Agnaldo, você é mais meu amigo do que se possa imaginar!!) vem fornecendo insights sensacionais sobre o que acontece comigo, muito psicólogo não conseguiria ver o que ele vê. No último e-mail que ele me mandou respondendo às minhas reclamações sobre o mercado de trabalho e a profissão e as pessoas em si (isso vai valer outro post), ele fala do mal que nos fez ter tomado a pílula vermelha, de como seria bom termos tomado a azul e ficado no mundo da ignorância (que é uma bênção ou, segundo o Paramore, "sua melhor amiga").

Aí vem a reflexão de hoje: Do que me têm servido vinte anos de estudo de misticismo e sociologia e psicologia e antropologia e outras "ogias" (sem "r", infelizmente)? De que vale saber o que não sei ou enxergar onde poderia (ou posso) chegar em contraposição a onde estou? É angustiante, é agoniante é... entediante... Ver como as pessoas são, prever como serão, espantar-se apenas com quão baixo podem chegar... O pior é saber o que fazer, mas não conseguir fazer...

Aqui entra "Mr. Nice Guy", ele pelo menos não sabia que estava sendo bonzinho com quem não merecia sua bondade... Eu não tenho essa escolha. Eu só aprendo que devo desconfiar das pessoas depois que sou traído... como um idiota que insiste no erro, pior que o idiota, porque ele insiste sem entender que está errando. Será que tenho doença de Chagas? (Sífilis eu não tenho porque sou doador de sangue, hehe).

Mas não pensem que não tenho esperança, outro dia, na escola em que dou aula, uma carteira com dinheiro foi entregue à coordenação e finalmente ao seu verdadeiro dono. Um oásis de educação, cortesia, companheirismo, cidadania,  num deserto de... nem caberiam aqui as palavras.

Anyway, tudo isso foi para recomendar que assistam ao episódio e para desabafar um pouco sobre a dureza que é "enxergar" o que não era para enxergar...

Por enquanto, acho que vou continuar sendo Mr. Nice Guy, mas como diria o filósofo Chapolin Colorado, não "abusem de minha nobreza"...

Blessed be.