by Ginnungagap

Afirmar é não negar, mas não negar não é afirmar!! O contrário também é verdadeiro.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Vamos falar de Lula e de Dilma


Lula

Meus amigos podem ficar chateados comigo, mas, é fato, não acredito na honestidade de Lula e nem o acho um “bom caráter”. Se ele merece estar na cadeia ou não (por este processo do Triplex, não merece, que fique claro:  foi um crime cometido pelo Judge Star seu pet), também é um assunto longo, com muitas variáveis que, por si só, já valeria um artigo inteiro. (Ele foi conivente com muita coisa ruim, mas fez muita coisa boa, se formos usar a lógica tupiniquim de acertos justificam erros, a discussão “vararia” uma madrugada).
Vale lembrar sempre: Lula é um gênio! Gênio, melhor assim, com “G” maiúsculo. De comunicação, de política, um monstro. Não pensem que a fundamentação epistemológica lhe faz falta (como faz a Olalho de Carvavo, por exemplo), porque não faz. Ele leu muito, viveu muito e não tem conhecimento formal, mas tem, sim, muito conhecimento e inteligência para utilizá-lo.
Acredito em duas coisas que Lula fala e parecem ser “de coração”:
1) Ele quer acabar com a fome no país. Creio nisso, imagino que ele tenha realmente passado fome e que extirpar este câncer do país seja um de seus objetivos de vida. Ainda que para isso tenha que “abrir as pernas” para os Bancos, os PMDBs, os DEMs, os Macedos e Valdemiros, os “barões” que comandam o país (de dentro e de fora!).
2) Ele não se interessa por “dinheiro”. Até acho que ele possa ter “entesourado” algum dinheiro sujo, para garantir o futuro da família (filhos e netos), mas ele mesmo não seja comprável com dinheiro (em espécie). Acho que aquilo de que ele gosta e sempre buscou, a vida toda, aquilo que o deixa vulnerável, é o poder. Para mim o que alimenta seu ego é ser recebido como “rei” em qualquer lugar do mundo, é ter tapete vermelho e bajulação de líderes mundiais (convenhamos, quem não gostaria?). Tirando isso, não há necessidade de um Triplex de fundos sem vista para o Guarujá, bastavam-lhe um churrasco com os amigos, com futebol e uma cachacinha, e um passeio no sítio, sim, ele usou, não há dúvidas, se “deram para ele” não foi “de papel passado”.
Acho que Lula é, acima de tudo, um “bom jogador”. Ele institucionalizou a corrupção no país e governou tranquilamente por 8 anos, sem oposição e deixou o governo com 87% de aprovação. Mas, pelo outro lado, ele também “liberou” as prisões... Assim: “quer roubar? Quer fazer coisas sujas? Faça, mas se te pegarem, o problema é seu!! Eu não sei de nada”. Nunca a polícia, a PGR, e os órgãos de controle e fiscalização tiveram tanta autonomia quanto na “era Lula”, ressalte-se que os líderes de seu partido foram, em grande maioria para a cadeia (cadeia!!).
(Aliás, parêntese: órgãos fiscalizadores com autonomia, no Brasil, é a mesma coisa que dizer “viva a corrupção!”).
Em entrevista recente na cadeia (acho que em mais de uma) ele demonstrou o quão “bom jogador” ele é: À época da reeleição de Dilma, já havia fila de empresários e políticos na porta dele, pedindo que ele viesse candidato, em 2014, mas ele disse “eu não poderia fazer isso com ela. Era um direito dela e eu tinha que respeitar”.
Conversando com um colega aqui do trabalho, construímos uma analogia do “lado desonesto” de Lula, com o Frank Abaganale Jr.  Se alguém “pegar uma safadeza” dele, ele apertará a mão da pessoa dirá “bom trabalho” e irá mansamente para a cadeia. Isso explica sua revolta tão grande com a farsa do Marreco e seu bichano, penso que Lula “toparia” ser preso, mas “honestamente”!
Lula pecou, no meu entender, ao não usar o seu cacife político para tentar bancar a reforma política, uma reforma justa da previdência e a reforma tributária. Ele sentou lá, se preocupou em acabar com a fome, dar estudo aos pobres, virar “potência mundial” e “só”, sem se preocupar em reestruturar o país, em “cessar o mecanismo” e, como um escorpião que você ajuda a atravessar o rio, o mecanismo “o picou” e junto com Lula, levou o PT, que ficou muito menor do que o barbudo e não consegue e/ou não quer desassociar as duas imagens.

Dilma

Rapaz, que mulher! Dilma é, para mim, quem deveria representar os ideais do PT de 1982, do PT que sonhava com um país honesto e limpo. Do PT que rachou, gerando o PSOL, quando Lula assumiu e mostrou que não moveria uma palha para mudar a bagunça. (Ver item 1 em destaque acima!).
Já ficou provado que ela foi arrancada do Planalto porque queria, verdadeiramente, acabar com a sangria. Queria manter os programas de Lula, queria o bem da população, mas sua incapacidade de articulação (ninguém é perfeito), leia-se agir gradativamente para alcançar o objetivo, levou o país a uma situação insustentável, porque, no segundo mandato, ela não governou, tudo o que tentou fazer foi barrado pelos que esperavam que ela continuasse “a política” de Lula. Pelo PSDB e DEM que brigavam e ainda brigam com o PMDB pelo controle real do país.
Dilma teve um primeiro mandato turbulento, mas foi ajudada pelas excelentes (vou repetir: excelentes!!!) condições econômicas deixadas por Lula. Desemprego baixo, economia aquecida, reservas cambiais na estratosfera. Não dava, mesmo que o PSDB quisesse, para atrapalhar o país... mas... em 4 anos... a crise mundial chegou e Dilma não tinha o cacife político de Lula, não tinha mais a força e o PT, apagado pelo barbudo, também não tinha mais como se segurar.
Dilma já foi inocentada das pedaladas (que sempre é bom lembrar, deixaram de ser crime, pouco tempo depois do golpeachment), de Pasadena e de muitos outros “crimes” que tentaram imputar a ela. Até hoje, não apareceu uma viva alma, para dizer “eu paguei um cafezinho para a presidente em troca desse ou daquele favor”, ela pode ter deixado passar grana para o partido, pode ter tido a campanha financiada por Caixa 2 (que, segundo Moro era mais grave que corrupção, depois deixou de ser mais grave), mas ela mesma, não é acusada de por 1 centavo que seja em seu bolso. Dilma deu força à Lava à Jato, reconduziu Janot ao cargo e caiu por isso.  Teve seu nome sujo na onda do “antipetismo” e perdeu as eleições para o Senado.
Aliás, o golpeachment foi recheado de anomalias, justamente em função da honestidade de Dilma. A maluquinha Janaína Paschoal chorou e se desculpou por ter representado contra nossa “presidenta”, o STF “rasgou a constituição ao meio” no parágrafo sobre impeachment, impedindo a presidente, mas mantendo-lhe os direitos políticos, tudo porque sabiam que estavam fazendo mais mal ao país do que bem, tudo em nome do status quo que culminou na eleição do traste.
Dilma tem um problema, quem viu o filme “O discurso do Rei” há de entender, para falar em público, mas, quem viu as respostas que ela deu no debate da reeleição a viu conversando nos bastidores em Democracia em vertigem, viu o quão inteligente ela é e o quão capaz pode ser.

Misturando as bolas

Para encerrar, cabe um último trecho, comparando Dilma a Lula e citando FHC e a Constituição de 1988.
Cabe dizer que, fazendo leitura corporal em entrevistas e imagens na TV, eu penso (minha opinião) que Dilma e Lula tem profundas divergências ideologicamente falando, mas nutrem um carinho e respeito um pelo outro que só a convivência traz. Os dois foram presos e torturados, mas as histórias são completamente diferentes. Lula não queria Dilma candidata, mas não teve escolha e respeitou o direito dela (como já disse) de concorrer à reeleição.
Anyway, a Constituição de 1988 foi construída para um Parlamentarismo que o plebiscito de 1993 não trouxe e gerou um sistema “híbrido” em que o Executivo vira refém do Legislativo, dando poder ao baixo clero, ao Centrão e às bancadas com suas bandeiras (como BBB, bala, bíblia e boi). FHC se aproveitou disso e, além do seu “engavetador geral da república”, governou 8 anos incólume a escândalos, derrubando seus primeiros ministros, de cabeça, me lembro de Mendonça de Barros e do “Serjão” (não me lembro mais do sobrenome).
Lula surfou na mesma onda. Aliás, Lula, como (a mim me parece) amigo de FHC, fez pouca coisa diferente de seu antecessor. Concentrou os programas sociais e criou o Bolsa Família, entre outras coisas, manteve os bancos bem alimentados (com efeito até os alimentou melhor) e divergiu severamente no quesito privatização. Só que duas coisas que Lula fez o destacaram: “cacarejou melhor” do FHC, como exímio comunicador, soube ganhar muito mais com os programas sociais e manteve o parlamentarismo velado, sendo que deixou seus primeiros ministros serem presos, Dirceu, Palocci, Gushiken (não me lembro se chegou a ser preso antes de morrer), são os de que me lembro agora.
No plano internacional, vejo uma grande diferença entre FHC e Lula. Enquanto o primeiro queria ser “o pequeno entre os Grandes”, isto é, figurar como um dos maiores países do mundo, ainda que sendo o “café com leite” da brincadeira, o barbudo queria ser “o grande entre os Pequenos”.
Ou seja, “olha, EEUU, Europa, aqui na AL, mando eu! FMI? Vá à bosta, venham cá, China e URSS, vocês são grandes, mas a malandragem tenho eu, Índia, África do Sul, cheguem mais aí, vamos criar nosso banco, a gente não precisa da Europa e dos EEUU! Atenção gigantes, para falarem com os pequenos agora, o interlocutor sou eu, resolvam aqui comigo primeiro.”. “O que é esse tal conselho de segurança? Tem poder? Tem influência? Eu quero sentar aí também!!”.
Emprestar dinheiro para fora? Isso não foi “caridade com coleguinhas”, o nome disso é Imperialismo. Sabe o que fazem aqui as grandes petrolíferas? A Petrobrás fazia na Bolívia! Muitos petistas eram contra essa postura! E nossos banqueiros ficaram bem felizes com isso. A possibilidade de calote sempre existiu, no minuto em que ameaçassem tirar o PT do poder!! Mas, ressalve-se, o povo brasileiro não foi prejudicado pela grana que saiu, mais do que foi pela grana que se esparramou aqui dentro nos bolsos da elite.
Dilma rompeu com o parlamentarismo velado, até tentou fazer de Mantega o seu primeiro ministro, mas a tendência à centralização foi maior do que ela. Por conta disso, “matou no peito” a maioria dos escândalos atribuídos ao governo dela, mas foi implacável, exonerou ministros por muito menos do que se prova contra Moro, bastaram suspeitas para afastar o arrogante Lupi. Muito se fala sobre ela ser grossa, mas, comparando com Lula e FHC (dois exímios vaselinas), até o Papa Francisco é um grosso! Internacionalmente, acho que Dilma não “fedeu nem cheirou”, apenas tentou manter a imagem deixada por Lula.
Com relação a apoiar ditaduras (não sei se é melhor do que “ser apoiado por elas” como nosso atual governo), Lula e Dilma sempre foram a favor “do jogo”, cada país se resolve internamente, inclusive acham que Maduro é ruim, mas ele tem que sair ou ser retirado pelo povo Venezuelano, não pelos EEUU.
Por fim, é isso, eu precisava por isso para fora de forma clara e direta. Não sou famoso, mas que venham os comentários, felizmente, sei que mínions não lerão um texto desse tamanho, especialmente com esse título, hehehehehe.

Obrigado por ter chegado até aqui,

Fique bem.

2 comentários:

  1. Ninguém é inocente nesta história. Nada mudou, apenas foi diferente para a plateia... atrás das cortinas, os verdadeiros donos do palco.

    ResponderExcluir

Edmund Burke, poeta irlandês disse: "Há um limite, além do qual a tolerância deixa de ser uma virtude." - Não aceitarei comentários de baixo nível.