by Ginnungagap

Afirmar é não negar, mas não negar não é afirmar!! O contrário também é verdadeiro.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Ufanismo ou "viralatismo"

Em minha modesta opinião, os principais problemas do Brasil são o "paradoxismo" e o "radicalismo".
Eu cresci na época da ditadura, meu pai, apesar de jornalista e esclarecido, encarnava o melhor espírito "macartista". Cresci ouvindo que "comunista é bandido" e expressões semelhantes.
Na minha infância, aprendi "na marra" a gostar do país. Eu dormia ao som do hino nacional (porque eu gostava!!) e, com efeito,  aos cinco anos já o cantava melhor do que um adulto.
Chorei muito, várias vezes,  de emoção, ao ver nossa bandeira tremulando e nosso hino sendo executado em eventos esportivos mundo afora.
Acho (e digo isso para todo mundo, sendo até ridicularizado por muitos) que os brasileiros somos o povo mais inteligente do mundo (os indianos talvez estejam no nosso nível)...
Acho que o Rio de Janeiro é indiscutível, indubitável e inapelavelmente a cidade mais bonita do planeta, que o Brasil é o país mais bonito do mundo, com mais recursos e que tem tudo para ser "a" grande potência mundial...
Tudo menos... o povo (todo, eu e você que está lendo, se morar no Brasil, inclusive). Mas! Espera! Eu acabei de dizer que somos o povo mais inteligente do mundo...
Esse é um dos paradoxos... Acho que terei de cursar psicologia,  sociologia e história (por mim mesmo, porque não dá para confiar na opinião de ninguém) para poder algum dia conseguir explicar o que penso... O problema do povo é que esta inteligência é utilizada "para o mal".
Concordo, em boa parte, com a  sra. Priscila Silva, quando ela diz que, ao falar mal do país, estamos falando mal de nós mesmos. Mas discordo frontalmente de argumentos como "todos os gringos querem morar aqui" ou "o resto do mundo tem os mesmos problemas".
Senão vejamos:
1) os gringos querem morar aqui, justamente por causa de nossa mentalidade colonizada. Aqui, qualquer estrangeiro, de qualquer país, é tratado como rei. Há muitos anos, fui convidado para uma palestra sobre RH a ser ministrada por um "diretor de alguma coisa" de Gana. Eu, gentilmente declinei do convite e indaguei de quem me convidava "o que um profissional de Gana (com todo respeito a Gana) tem a acrescentar para mim em termos de RH?". Outro exemplo, meu pai tinha um amigo uruguaio que morava no Brasil havia mais de trinta anos e ainda mantinha seu fortíssimo (fortíssimo!!) sotaque. Perguntado, por meu pai, sobre o porquê dele não ter perdido o sotaque após trinta anos, ele respondeu solenemente: "Porque com esse sotaque sou mais bem tratado do que se eu fosse um brasileiro comum". Pergunte-se aos brasileiros que estão lá fora, estabelecidos, se querem voltar por motivo diferente da saudade da família e dos amigos e (talvez) da nossa comida. Todos os que eu conheço não querem! Sentem falta da comida e tal, da paisagem, mas não voltam de jeito nenhum...
2) há problemas em outras partes do mundo. Sim, os EEUU tem um péssimo sistema de saúde... comparado a que padrão? Ao nosso padrão "teórico", eu suponho, ou ao padrão que "eles gostariam de ter". Aqui, ainda cabe um parêntese: (nossos profissionais de saúde pública, os sérios, são excepcionais, em função da nossa inteligência, aliada à total falta de condições). Há corrupção na Suíça ou na Dinamarca? Lógico que há, mas a corrupção lá não inviabiliza nem encarece os negócios do Estado. Neste ponto, não há PT ou PSDB ou PQP que vá mudar isso, enquanto não trocarmos quem "verdadeiramente está no poder", já falei sobre isso em vários lugares e, qualquer dia, volto a isso...
Há coisas que, de fato, só existem ou só acontecem no Brasil, que são impensáveis em outras partes do mundo, como o governo entregar a direção de uma agência reguladora de saúde a um ex-diretor de planos de saúde privados que declarou publicamente ser contra uma decisão do STF que obriga o reembolso ao SUS por parte dos planos de saúde, como as fraudes para a meia entrada (talvez existam lá fora, mas eu aposto que em muito menor número!!).
A corrupção aqui é tolerada e vem de berço. Saia pela rua e faça uma enquete: "O que você faria se fosse eleito para o legislativo ou executivo?". Se tivéssemos uma máquina de ler pensamentos, as respostas seriam (arrisco dizer, 95%) "eu iria me arrumar e arrumar minha família e meus amigos".
O governo não cria empregos e alimenta uma máquina de concursos públicos, jogando com a esperança do povo que (de novo, 85%) não quer trabalhar. Quer estabilidade para poder faltar, ter um negócio próprio e vários feriados e folgas no ano.
Arrisco dizer que todos nós (ao menos uma vez) pensamos em como seria ganhar na loteria e (novamente, arrisco, 80%) já jogou, nem que seja uma vez. O que é a Loteria senão uma forma de concentrar renda e de lavar dinheiro sujo? (Ou alguém tem a inocente crença de que os prêmios da loteria são genuinamente pagos "por sorteio"?).
Somos paradoxais, porque somos hedonistas (internamente) e solícitos (para os estrangeiros, mas não porque somos "bonzinhos", antes porque achamos que vamos "nos dar bem").
Eu gostaria de poder bater no peito e dizer que "amo meu país", mas isso não é verdade, assumo a minha responsabilidade pela m... (com o perdão da palavra, mas não vejo outra) que está aí. Eu tento influenciar meus filhos, as pessoas à minha volta e meus alunos. Tento conscientizá-los para serem cidadãos respeitadores das leis... Mas... que leis nós temos? Um país onde "lei não pega" (isto é impensável em qualquer outro país!). Um país onde quem faz as leis, serve a interesses escusos (claro, isso há em todo o mundo, vale outro post, mas aconselho que leiam Milton Santos e que assistam Zeitgeist - Addendum ou mesmo à série canadense Continuum e que pensem em quem "realmente está no governo").
Falar em "resolver nas urnas" é um disfarce tosco para a preguiça. Quase uma falácia. Nossas urnas são tão confiáveis quanto um papel de pão escrito à lápis. Eu não vejo opção nas urnas,  supondo que elas sejam confiáveis.  Não acredito em nenhum dos candidatos que tenho para escolher. Rigorosamente nenhum.
Somos um país que ainda está sociologicamente falando (que me perdoem os sociólogos), na Idade Média. Somos feudalistas. Nossa Classe Média (alta) pensa que é elite, nós talvez sejamos o único país do mundo onde há "povo e povão" (e povinho!), temos um forte viés religioso nos pontos de vista da nossa sociedade (e isso é algo que vale outro post, mas nossa inteligência faz com que a religião aqui tenha um comportamento todo especial, embora os evangélicos venham tentando - e paulatinamente conseguindo - radicalizar o discurso intolerante do radicalismo religioso, para nossa sorte, radicalismo é algo que "não pega muito" por aqui. Quer dizer, temos radicais, mas nem tanto, isto é, somos radicais quando nos convém. O radicalismo aqui funciona mais ou menos assim: Quando "minha turma" está no poder, o país é ótimo, quando "outra turma" está lá, o país está à beira do colapso). O Brasil, na verdade só tem Nobres e Pobres e os que pensam que são uma coisa e são outra. Quem é inteligente, é da Classe Média (de verdade) não tem lugar aqui, vai embora e não volta. Maquiavel ficaria maluco se conhecesse o Brasil. Teria que reescrever o príncipe, porque aqui, qualquer menino de 5 anos é melhor estrategista político do que ele!
Vou contar uma piada que muitos devem conhecer, mas que define bem nosso país. (e tem religião na piada!).
Conta-se que Jojô e Gabi (desculpem a intimidade, Jeová e Gabriel) conversavam durante a criação do mundo. Gabriel olhou para a Terra e perguntou: "Senhor,  que país é aquele? Não tem terremotos, não tem maremotos, tem quase todos os tipos de solo, de minerais, diversidade de relevo e (minha adaptação à piada) vejo que o senhor pretende colocar pessoas inteligentes lá. Isso não é justo, Senhor, este país dominará o mundo, será uma superpotência..." e Jeová respondeu "Calma, meu filho, você vai ver o povinho que vai governar aquilo lá...".
Não me sinto viralata nem ufanista..
Eu sou brasileiro. Acreditem, eu chorei ao ler a carta da independência e ao descrever a cena às margens plácidas do Ipiranga, para minha amiga inglesa, quando fomos ao museu imperial em Petrópolis. Eu acredito que somos capazes de nos tornar uma potência mundial, mas não acho que eu seja capaz de participar disso... Se eu estiver vivo quando isso acontecer, espero que me recebam bem na minha volta...